Análise do mercado :: semana 12 à 16 de Abril

E agora Jair? Que situação hein?! Por onde podemos começar?

Talvez devamos começar pelo extremismo que tomou conta do país na última eleição presidencial, numa batalha basicamente entre duas vertentes, que auto se declararam ‘anti-facista’, enquanto a outra ‘anti-establishment‘. Mas será que elas representavam exatamente isso?

Melhor irmos aos fatos…

O primeiro, que provavelmente seja incontestável, é que fomos literalmente atropelados por essa pandemia, que vem gerando reflexos profundos no mundo inteiro, seja pela enorme quantidade de vidas perdidas, pelo cotidiano que foi totalmente alterado, pela economia, que em termos gerais, é a principal fonte de sustento social, de subsistência das famílias, da possibilidade de se levar o pão, o arroz e o feijão ‘de cada dia’ para casa.

Já antes da pandemia, a fome alcançava 820 milhões de pessoas no mundo, segundo a ONU. A força econômica de um país, que é o suporte fundamental às políticas sociais mais ou menos intensas, é e sempre foi o instrumento preponderante para a redução da miséria, que vem se alastrando de forma veloz, e que baterá em nossas portas de uma forma, ou de outra. Nesse contexto, de uma realidade que talvez não seja a sua, mas de uma grande parte da população, sugiro uma reflexão sobre os resultados diretos dos lockdowns, das severas medidas restritivas, do direito à liberdade de ir e vir, sobre a fome.

E é dentro desse cenário complexo, que observamos uma dicotomia interessante da nossa cúpula do poder judiciário, entre a decisão de regionalizar as decisões relativas ao combate da pandemia, isto é, em que todas as medidas cabíveis tomadas por Estados e Municípios não poderiam sofrer a interferência da União, e o requerimento da instalação de uma CPI no qual tem o objetivo de “apurar as ações e omissões do Governo Federal no enfrentamento à covid-19″.

Pelos dados abaixo, observamos uma retomada do crescimento no número de contágio e óbitos em escala global – números esses puxados atualmente pelo Brasil e pela Índia. Numa avaliação relativa à população, nesse momento, o Brasil se encontra na triste 16a posição em termos de óbitos, e a 41a posição em termos de contágio.

Mas Jair, você bem que poderia ter ajudado, recomendando o distanciamento social, a utilização de máscaras por todos, e tecendo comentários mais otimistas e ações mais enérgicas com relação às vacinas. Faria bem a todos… e provavelmente à você.

Ah, e por falar em vacinas, e que bom que elas nos dão esperanças por dias melhores, é essencial ressaltar que atravessamos uma crise global de abastecimento, que vai desde a capacidade de produção e suprimento de insumos, que afeta inclusive a campanha de imunização na China, até a qualidade destas, como os aparentes casos de coágulos sanguíneos provocados pelas da AstraZeneca, e a possível baixa quantidade de anticorpos gerado pelas da Sinovac – coincidentemente duas das vacinas produzidas em parcerias no Brasil, respectivamente pelo Butantan e Fiocruz.

Em termos de vacinação por milhão de habitante, observamos que o Brasil se encontra no grupo (na verdade com um desempenho um pouco superior) dos países com grande quantidade populacional, excluindo os EUA, e atrás do Chile e Uruguai na América do Sul – sendo que este primeiro atravessa atualmente uma onda seríssima de contágio, mesmo com duríssimas medidas restritivas, e como mostra o gráfico abaixo, um impressionante nível de imunização.

Em números absolutos, observamos que o país já vacinou cerca de 20 milhões de cidadãos.

É Jair, e se já não bastasse todos os problemas que surgiram durante essa pandemia, tem mais essa agora, diante da anulação das condenações do ex-presidente Lula, e de uma desaprovação recorde do seu governo, é que surpreendentemente, numa pesquisa recentemente realizada pela XP, que seu nome aparece tecnicamente empatado para a eleição presidencial de 2022.

A surpresa fica por ainda estar empatado com alguém, dado a desaprovação atual do seu governo, mas sobretudo, com quem.

Não ficaria surpreso se estivesse perdendo de ‘lambuja’ para o ‘Manoel da esquina’. Mas desde o início da chamada ‘Nova República’ em 1985, atravessamos nos quase 16 anos dos governos do partido do seu atual e principal oponente, o pior escândalo de corrupção do mundo, os conhecidos ‘mensalão‘ e ‘petrolão‘, que tinham como objetivo a perpetuação deste no poder, um apoio explícito à regimes ditatoriais como o da Venezuela, Bolívia e Cuba, e uma das piores crises econômicas que o país já enfrentou, conforme demonstra o quadro abaixo. 

Mesmo sem pandemia,  alcançamos durante esse governo altos picos de inflação, uma das piores taxas da atividade econômica, e um aumento abissal no nível do desemprego. Porque gostaríamos que isso tudo voltasse?

Mas Jair, antes fosse só a pandemia, o seu péssimo índice de aprovação como presidente. Chegamos no 2o trimestre do ano sem um orçamento aprovado, na verdade, com um chamado de ‘fictício’. Isso porque, no formato que foi fechado, faltarão verbas para os gastos obrigatórios (cerca de R$26 bilhões), já que o orçamento foi inflado por emendas parlamentares, que são aquelas requeridas pelos congressistas para serem destinados aos seus ‘redutos’ eleitorais, para obras, projetos diversos etc.

O impasse está em vetar totalmente ou parcialmente essas emendas, ou mantê-las com um risco de crime de responsabilidade fiscal, o que poderia acarretar num futuro pedido de impeachment.

Talvez não seja uma boa idéia partir para mais uma guerra política neste momento tão frágil do governo, que se vendeu como ‘anti-establishment‘, mas que mais do que nunca, preza e pede ajuda, apoio, e suporte, para um congresso com um histórico, diria, insensível às causas do país. Talvez também não seja recomendável correr o risco de ser impedido pelos mesmos que lhe estendem a mão em troca de uns bons ‘bocados’.

É Jair, a coisa está feia para você… mas não se preocupe, você não está sozinho nessa… também está bem feia nós, como sempre esteve, cidadãos brasileiros.

Análises gráficas

As análises abaixo refletem apenas opiniões de cunho pessoal, e não ecoam de maneira alguma qualquer tipo de recomendação de investimento. Além disso, as mesmas são estritamente gráficas, e não consideram qualquer variável adicional, incluindo as citadas no início desse texto.

Ibovespa

Após alcançar o objetivo traçado nas análises anteriores, na casa dos 120mil pontos, o índice brasileiro sentiu o topo do canal de alta marcado pelas duas linhas diagonais e paralelas em preto no gráfico abaixo, e após uma correção acentuada, vem operando de forma relativamente lateral, sem direção clara.

O alvo na região dos 140mil pontos – assumindo que o descanso / correção que o levou dos 105mil aos 93mil pontos foi apenas a confirmação de uma bandeira de alta, se mantém congelada, pelo menos por enquanto.

Como suportes atualmente importantes, destaca-se a retração de 50% de fibo da sua última perna de alta, na faixa dos 110mil pontos, assim como a linha inferior do canal mencionado, ao redor dos 105mil pontos.

Numa visão dolarizada,  observa-se que o ibovespa se encontra dentro de um canal amplo de alta, mais precisamente na parte inferior do mesmo, ou seja, numa região de suporte, mas no entanto, abaixo da média de 200 períodos, o que graficamente sugere uma maior cautela para uma tendência de alta neste momento.

Contratos de dólar

Os contratos futuros de dólar vêm trabalhando dentro de uma ampla congestão, conforme o retângulo destacado no gráfico abaixo.

Mesmo diante de um aumento da taxa de juros, e um outro aumento futuro já contratado, o Dólar continua a se valorizar frente ao Real, num misto dos riscos inerentes da já delicada situação fiscal do país, e pela recente ‘re-valorização’ da moeda americana no cenário externo.

O índice DXY acabou rompendo com força um importante suporte para cima, sugerindo uma trajetória de recuperação, impulsionado também pelo aumento das taxas dos títulos americanos de dez anos. Nesta semana em específico, perdeu força, e será importante acompanhá-lo de perto a fim de melhor entender a sua futura trajetória.

S&P 500

O principal índice americano continua a subir após atingir o objetivo que já vinha mencionando desde o 4o trimestre do ano passado.  

“rompeu a consolidação marcada pelo retângulo em preto no gráfico a seguir, e vem produzindo novos topos históricos, no qual enxergo um potencial de valorização para a faixa dos 3.900 / 4.000 pontos no médio prazo (pela projeção para cima da amplitude do retângulo mencionado – conforme setas em cinza no gráfico abaixo).”

Observa-se que este vem fazendo máximas históricas semanais, com recentes divulgações de dados robustos da economia americana, como o último payroll, manutenção de uma política monetária dovish, e estímulos fiscais ‘infinitos’ (que podem gerar uma série de outros problemas mais pra frente).

A tendência de alta é clara, e inegável. Contudo, relativamente esticada.

Commodities / Metais / Bitcoin

Também como mencionado desde o ano passado, o preço do barril de petróleo mais do que alcançou o seu preço pré-pandemia.

“O preço do barril de petróleo WTI rompeu para cima uma consolidação entre os 34-42 USD/bbl que se arrastava desde o início de junho deste ano, caminhando para atingir o seu preço pré pandemia na faixa dos 54 USD/bbl.”

Conforme também escrito anteriormente, havia uma boa probabilidade que o preço continuasse a subir, dado ao otimisto de recuperação econômica pelos mercados, e o corte de Capex (investimento) realizado pelas empresas do setor de óleo e gás, sugerindo um futuro possível de desequilíbrio entre oferta e demanda também para o petróleo.

No entanto, os preços podem ter estacionado num patamar de equilíbrio, com os principais produtores balanceando os cortes de produção realizados durante o período econômico mais intenso da pandemia, tentando mantê-los num nível saudável, mas nem tanto atrativo para o setor de shale.

Os preços do minério de ferro e de cobre depois de subirem de forma muito acentuada, num misto de disrupção da cadeia de suprimentos, e uma demanda inesperada vinda principalmente da China, trabalham atualmente de forma consolidada, conforme os dois gráficos a seguir. 

Ouro / Bitcoin

Mesmo depois de uma recuperação nesta última semana, o metal tem uma importante LTB (linha de tendência de baixa – marcada em vermelho) que não consegue ser rompida há bastante tempo, e ainda não apresenta um movimento mais importante de alta.

Já o bitcoin, embora também venha operando de forma lateral nas últimas semanas, continua numa tendência de alta, sem muitas resistências pela frente.

Agenda econômica

O calendário econômico desta semana será bastante importante, como ilustra as agendas abaixo extraídas do investing.com. 

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