Hoje começamos a nossa análise semanal com uma pergunta. Será que podemos estar entrando, ou já estarmos dentro de uma possível bolha no mercado de ações?
A verdade, é que ninguém sabe… Porém, o importante é formarmos uma tese sobre essa questão.
Primeiramente, precisamos iniciar essa reflexão com um importante disclaimer. Sim, estamos vivendo um momento único, com uma parada brusca nas economias por conta desta pandemia que nos assola desde o primeiro trimestre deste ano. Contudo, é necessário junto à isso admitir que essas mesmas economias, pelo menos as principais, já vinham apresentando sinais de enfraquecimento, ou pelo menos, de exaustão. Aliás, apesar de todos os prognósticos relativos à uma possível vacina, a verdade é que não há absolutamente garantias se e quando teremos uma à nossa disposição, infelizmente.
Bem, analisando as entidades pelo ponto de vista do endividamento, verifica-se que tanto os governos quanto as corporações operam atualmente em nível relativamente alto (se comparado as mesmas condições anteriores), o que pressupõe invariavelmente uma elevação de risco (sim, de insolvência, de atraso, de dificuldade de honrar compromissos).
Os gráficos abaixo expressam o nível de endividamento em relação ao PIB do Brasil (à esquerda) e dos EUA. Para fins didáticos, DBGG significa Dívida Bruta do Governo Geral e DSLP, Dívida Líquida do Setor Público.
Encontramos situação parecida nas corporações, conforme vemos nas figuras a seguir:
Identificado essa condição, o investidor, o ‘emprestador’ de dinheiro, pela regra básica de relação risco / retorno, deveria exigir à essas mesmas entidades retornos superiores aos exigidos num passado não muito distante, dado que como mencionamos, a situação financeira das mesmas se agravou com determinada importância.
Contudo, não é isso que encontramos, se buscarmos alternativas de investimentos em títulos públicos e/ou privados.
Observa-se abaixo as taxas de juros do Brasil e dos EUA respectivamente, que servem como referência para os retornos em títulos públicos destes países.
Cenário semelhante encontramos quando olhamos para as debêntures (ou bonds em inglês), que representam os títulos privados disponíveis aos investidores.
O que pode ou poderia ajudar a melhoria dessa condição seria o incremento do consumo por parte da população de uma forma geral, aumentando as receitas das empresas, e consequentemente, elevando a arrecadação dos governos.
Entretanto, o atual nível de desemprego dificulta a realização desta equação.
O desafio do consumo se torna ainda mais difícil, quando num ambiente de desemprego, de aumento de falências, identificamos ainda um incremento na inflação de ítens essenciais, como nos alimentos.
Poderíamos aqui discorrer sobre uma quantidade considerável de variáveis que puxam para baixo as economias da grande maioria dos países, e consequentemente, desafiam de modo complexo a recuperação das empresas em termos de resultados.
Não há dúvidas que a valorização de boa parte das ações saíu na frente da recuperação da economia real, como é de praxe. A grande dúvida que fica, é se o mercado acionário realmente vai chegar na frente, ou se apenas queimou a largada.
Ibovespa
Observamos que depois de um ‘descanso’ de aproximadamente um mês, o IBOV fez duas barras bem expressivas de altas, para fechar a terceira semana com um doji (barra de indecisão). Contudo, o mesmo voltou para dentro de um canal de alta formado no início de 2016, e a linha inferior deste pode talvez trabalhar como um possível suporte, se necessário. Ou seja, nesse momento continuamos numa clara tendência de alta, e correções mais acentuadas fazem parte do jogo, ainda mais por todo o contexto descrito no início do nosso semanal.
Contratos de dólar
Já os contratos futuros de dólar após fazerem um movimento muito forte para baixo, e configurarem posteriormente um OCOI (ombro cabeça ombro invertido) que já se desconfigurou, vem subindo novamente após testar um importante suporte marcado pela linha azul no gráfico abaixo.
Para a moeda americana, temos três importantes observações:
(1) O aumento das tensões entre EUA e China podem gerar uma nova procura natural pelo dólar, denominado ativo de ‘segurança’, embora, pareça que esta corrida venha se dando majoritariamente neste momento pela busca em Ouro e Prata.
(2) Países e empresas estão super endividados, e grande parte dessa dívida está denominada em dólar. Desta forma, quase que obrigatoriamente, essas mesmas instituíções precisarão da moeda americana para honrarem seus compromissos à medida que esses forem vencendo.
(3) Como contraponto, o índice DXY vem caindo de forma bem acentuada, e está, após romper um suporte que não era ultrapassado desde o início de 2019, caminhando para outro que não é vencido desde 2015.
S&P 500
O principal índice americano encerrou a semana também com uma importante barra positiva, e continua operando numa clara tendência de alta, rumo ao seu topo histórico.
Commodities e metais
Depois de uma recuperação importante nos preços do barril de petróleo, o mesmo demonstra dificuldades para continuar subindo com a velocidade anterior, provavelmente pela sinalização de que os principais países produtores começarão a flexibilizar um pouco mais os cortes realizados no início da pandemia.
O minério de ferro rompeu uma importante consolidação na casa dos USD 100, fazendo posteriormente um pullback, e armando agora uma nova perna de alta em direção à máxima histórica, conforme sugerem as setas em preto no gráfico abaixo.
O ouro fez uma fortíssima barra de rompimento, e acelera a sua alta de modo bem significativo. Aparentemente o metal capturou uma parcela do movimento defensivo que naturalmente era direcionado também ao dólar. Contudo, como vínhamos ressaltando, não há muita novidade nessa possível preferência, dado que a intensificação de impressão de dinheiro pelos bancos centrais ao redor do mundo pode de fato trazer uma instabilidade em termos de confiança no poder aquisitivo do papel moeda.
Agenda econômica
A semana será repleta de eventos e divulgações que deixarão os mercados mais agitados, como a ata do COPOM, ofertas de empregos nos EUA e produção industrial na China.
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